quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Vícios lícitos.


Não tenho um ouvido absoluto, pelo contrario, provavelmente tenho uma boa porcentagem de surdez iminente. Mas não ligo. Tudo em prol da boa música. Obviamente a minha surdez é proporcionada pelos decibéis que agridem meus tímpanos diariamente. Eu sei da maledicência desse habito, porém, como todos temos vícios que agridem o organismo, o meu é o fone de ouvido bem alto.
Como uma droga, os acordes, as vozes, a guitarra, o baixo, as letras maliciosas, ousadas modernas e antigas são os ingredientes do entorpecente que me alucina, me contagia, me torna eufórico e elétrico. E, como todo viciado, tenho abstinência compulsiva. Não passo nenhum dia sem escutar belos acordes e canções. Começo suar, ficar agitado; gestos impensados são rotineiros. Nada como a voz rouca de Amarante, a Desfaçatez de Elis Regina, a ironia de Chico Buarque, o originalidade de Bob Dylan, a ousadia dos Beatles ou a as musicas bêbadas dos Strokes. Tudo isso me alucina. Um coquetel surreal e psicodélico de musicas é meu vicio pernicioso.
Mesmo assim, acho meu vicio incompleto, pois, no auge dos vinte e um anos não sei tocar nenhum instrumento. Sou um tipo analfabeto, que sabe, entende e difere o bom do mau som, mas que não sabe produzi-lo. É uma falta que pretendo cobrir um dia. Quando? Não sei. Tenho paciência, perspicácia e ousadia suficiente para começar quando der vontade, entretanto, meu pecado mais latente me condiciona: a preguiça. É interessante, mas se pudesse usar o artifício do ócio acadêmico para sempre, eu o usaria. Alias, tenho outro vicio: ler. Esse num grau menor, porem, às vezes me pego com uma vontade incessante de iniciar uma leitura despretensiosa, não as leituras mediadas pela academia, mas uma leitura simples, filosófica, literária, romântica ou mesmo agressiva versus natural como Nelson Rodrigues.
De certo modo, os vícios são inerentes, como diz um amigo. Estalam-se em nossa essência e espírito tornando-se um residente. Minha alma é escrava da essência materialista do homem, mas um dia a matéria acaba, ou melhor, se transforma. E a alma? Flutua pelas canções ruma a uma eternidade livre de culpa e nostalgia.

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